domingo, 10 de abril de 2011

The Wall em Lisboa

Roger Waters Live



22 de Março em Lisboa



Imagens captadas por Carlos Rocha

































Esperei uns dias até pegar no papel e na caneta para começar a escrever sobre o concerto de Roger em Lisboa, concerto que assinalou a passagem do 30º aniversário do disco "The Wall".Em poucos minutos escrevi, embora em "letra caida" 4 páginas A4. Dei por mim a escrever coisas sobre o disco, adiando a parte do concerto vezes sem conta.Percebi que a minha relação com o disco é bem mais próxima do que alguma vez pensei, talvez porque terá sido o primeiro disco dos Floyd a que tive acesso, talvez porque o fruto proibido é o mais apetecido e o "The Wall" foi para mim um fruto proibido como se vai ver mais à frente. Aos poucos irei colocar neste espaço as linhas que escrevi sobre os Floyd, sobre Waters, sobre os discos, linhas nas quais onde ainda não consta a palavra "Fim".



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Existe algo que não posso deixar passar, sou obrigado a referênciar a especial influência de dois dos meus primos mais velhos nesta minha paixão pelos Pink Floyd - o António e o Raúl. O António porque foi quem comprava os lp´s , mais tarde os cd´s e me deixava ouvir na sua "Shneider" e o Raúl porque era o fã, talvez o primeiro fã dos Floyd que conheci.Não era um daqueles gajos de andar de T-Shirt Floyd na rua, mas ouvia as K7´s e talvez porque na época também ele era músico tivesse uma perspectiva diferente sobre o mérito das composições. Ambos desbravaram o caminho das canções desde os tempos do experimentalismo psicadélico, até ao duplo vinil "The Wall" e à K7 VHS com o filme que nunca cheguei a ver na totalidade (propriedade do António). Sei que o meu primo Raúl gosta imenso da passagem "Comfortably Numb" e quando soaram os primeiros acordes da canção no espectáculo resolvi enviar-lhe uma mensagem sms:



"Aqui estou eu mais uma vez a praticar o culto Floydiano, um abraço", ao que respondeu (por outras palavras):



"Adoraria estar ai, mas mais uma vez fui traido por este meu comodismo inexplicável, abraço".



Aos meus primos o meu obrigado pela sua soberba influência.



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Escrevi as linhas seguintes no Sábado,27 de Março de 2011 e apesar do espectáculo ainda estar bem fresco na memória todas as palavras aplicadas foram poucas para descrever cada momento.


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Silves, 26 de Março de 2011



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Começaram muito cedo as minhas incurssões "Live" assistindo a concertos de diversos artistas nacionais que no inicio da década de 80 passaram pela minha cidade mais propriamente pelo Castelo de Silves. Era um menino, quando vi juntamente com alguns daqueles amigos que comigo fundaram e alimentaram "A malta do bairro" bandas como os Táxi, Rui Veloso e na recta final das suas histórias os Roxigénio e a Go Grall Blues Band.Os UHF também tiveram passagem por Silves ainda antes de lançarem o seu primeiro disco "Á flôr da pele".



Há uns dias percorria o meu album de bilhetes de concertos e tive imensa pena ao perceber que me faltam muitos. Os concertos de bandas naciionais basicamente foram oferecidos em festas como o antigos festival da cerveja, fatacil, dias de cidade e por ai fora. Foram centenas de concertos.Os Megas concertos, bem mais dificeis de conquistar,tiveram inicio em 1991 durante uma digressão dos Simple Minds que passou por Alvalade, brindada com a presença de 30.000 entusiastas e que teve direito a uma primeira parte de luxo com a actuação de Joe Cocker. Nessa época todas as grandes bandas vinham a Alvalade, recordo-me que pouco antes ou pouco depois dos Minds, Alvalade recebeu Paul Simon e Santana.Desde esse verão de 91 para a frente, juntamente com muitos dos meus amigos construí um curriculo invejável, do qual me orgulho. Nunca fui aos concertos por achar "cool" (era moda) ou porque os outros iam. Dire Straits (2x),Mark Knopfler (5x),Pink Floyd, Simple Minds (4x),Lloyd Cole,Sting, Police, Massive Attack (2x),Peter Murphy, Jethro Tull, U2,Fish,Iron Maiden (2x), Dream Theater, Metallica, Depeche Mode,Leonard Cohen, Portishead, Robert Plant, Supertramp (2x),The Cure (3x), James (2x), Peter Gabriel, Bob Dylan, The Waterboys (2x), Roger Waters (3x), Pat Metheny e Brad Meldhau, Placebo (2x), são apenas alguns dos nomes que constam no meu curriculo, rico em quantidade e diversidade.



É fantástico, digo que cada vez é mais fantástico, poder saborear 2h frente ao palco. O tempo, ou melhor a idade moderou a euforia e aprendi a apreciar o que acontece em palco, a pericia dos músicos, os arranjos das canções, a sonoridade, etc.Não tenciono abandonar de forma alguma este previlégio que é assistir a uma mega produção live, mas tal como disse atrás estes concertos são dificeis de conquistar. Hoje temos que driblar a crise para ter acesso ao culto.



Digo há muitos anos que um concerto supera qualquer jogo de futebol, são momentos convergentes, de cumplicidade, esquecemos a crise, o FMI, a época de merda do Sporting e por ai fora. O concerto tem a particularidade de nos transportar na máquina do tempo rumo à revisitação das vivências de juventude, dos grandes amigos, dos discos de vinil, das K7´s e por ai fora. Engraçado é que continuo a adorar as mesmas bandas e músicos que ouvia há 25 anos, continuo a gostar dos albuns, das canções, a apreciar o aperfeiçoamento das técnicas de dominio dos instrumentos, mas principalmente por me aperceber que a maioria dos músicos de que gosto se tornaram anti-vedetas. Estão ricos, não tocam de borla é certo, mas olham para os aficcionados com respeito e sem arrogância. Há uns anos vi o Fish enquanto cantava "Lavander" invadir a plateia da Aula Magna e cantar entre o público, ali, logo à minha frente. Tudo nas calmas.



Longe vão os tempos em que os albuns valiam pelo seu todo.



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Canções como "Shine on you crazy Diamond", têm a sua força, mas honestamente esta canção ganha outra dimensão quando inserida no contexto "Wish you were here", não achas ó Rocha?



Esta foi uma das razões a que se deveu a minha presença na passada terça feira no Atlântico. O The Wall é mais album quando tocado na sua sequência e as canções são mais fortes quando estão perto umas das outras. As canções de The Wall viverão para sempre enquanto fizerem parte do disco The Wall e gosta verdadeiramente destas canções quem consumiu ou consome o disco e o entende.Infelizmente o lp nunca deixou de estar actualizado nas suas temáticas, a merda que acontecia na época é a merda que acontece hoje, só que em dobro.



The Wall é uma instituição da música, foi preparado para atacar, agitar e agitou tanto que foi alvo de censura nalgumas partes do globo, mas nem por isso deixou de crescer.



Aqui surge a história que fortaleceu os laços de cumplicidade entre a minha pessoa e o disco.



No final dos anos 80, talvez já anos 90, estava eu no 9ºano de escolaridade e pertencia a uma turma terrivel, o mitico 9ºC. Um dia, em dia de teste de Geografia, não me recordo bem se por saber pouco ou se por estar à vontade na matéria, dei o teste por concluido e como a professora não queria deixar sair da sala ocupei o meu tempo desenhando um muro na última página da folha de teste escrevendo "Pink Floyd-The Wall". Na verdade na época o meu fraco inglês não me permitia fazer uma leitura correcta das mensagem do disco, mas adorava a sonoridade, as vozes,as operetas, etc. Digamos que sabia que a canção "Another Brick In the Wall" tinha a ver com a tirania aplicada pelos professores e pouco mais. A professora resolveu chamar o encarregado de educação à escola, mostrou o meu desenho e transformou-me num revolucionário afirmando que eu era uma má influência. Que facista burra, fiquei com a sensação de que podia ter desenhado uma pila devidamente acompanhada por dois tomates que a professora não dizia nada. O problema não era o desenho que não deveria ter feito numa folha de teste, mas sim o muro que construi.Depois desse dia a minha K7 com o disco começou a ir comigo para a Escola e quase todos os dias tocava na CIE amarela que pertencia à A.E. Foi aqui é que eu percebi a força das canções do muro, passados 10 anos ainda perturbavam aquela pobre ignorante e muitos outros espalhados pelos quatro cantos do mundo. The Wall é um disco anti-guerra,incomodativo para os senhores que viviam sentados nos puleiros do mundo. Foi denunciador da ignorância premeditada, falou sobre corrupção, sobre o jogo, a prostituição, a depressão, a frustração, sobre as dúvidas que são inerentes à existência do ser humano. Hoje, continuamos iguais com a agravante de que melhoraram os meios técnicos para execução da chacina humana.



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Gosto dos momentos que antecedem os concertos, cria-se uma atmosfera positiva com a chegada dos aficcionados, embora desta vez não tenha tido o previlégio de poder usufruir desses momentos.Os momentos antes do concerto do Roger foram brindados com umas jolas fresquinhas e borbulhantes na companhia do Carlos Rocha e do Daniel Jimbrinhas, dois conhecedores de discos conceptuais dos tempos do rock progressivo, aliás a viagem para cima teve a banda sonora de "Lamb lies down on broadway", um disco clássico dos Genesis de Peter Gabriel.



Como não poderia deixar de ser entre o regar da goela e o alimentar do estômago a conversa debandou para os inevitaveis Pink Floyd. Eu disse "os Pink Floyd são a banda mais importante da história da música" afirmação que não recebeu uma boa receptividade dos meus 2 amigos.Há muito que penso assim, embora seja assumidamente o fã nº 1 dos Dire Straits. Nos anos 70 os Floyd lançaram "SÓ","Meddle", "The dark side of the moon", "Wish you were here", "Animals" e "The Wall",este último em disco e em filme. Esta sequência é soberba.Finda a fase psicadélica e do experimentalismo os Floyd tornaram-se numa banda influenciadora na sonoridade e na audácia. Bom mas independentemente das divergências nas opiniões é sempre bom poder jogar fora 2 dedos de conversa com quem se interessa e sabe sobre estas coisas.



Por estranho que pareça o meu disco preferido acaba por ser "The Final Cut", o disco da discórdia, o principio da ruptura. Waters quis elaborar um novo disco com material que sobrou de "The Wall" juntando-lhe mais algumas coisas o que originou o fim anunciado da banda. "The Final Cut" disco emotivo, provocante, melódico, no fundo acabou por ser a 3ªparte de "The Wall", a minha parte preferida e o fim dos Floyd.


Confesso que tive em tempos uma relação de conflito com o "Dark side of the moon", achei que cenas como moedas a cair, relógios a tocar ou canções como "On the run" não eram para mim. Depois das moedas adorava ouvir o baixo de Waters e ouvia "Money" as vezes que fossem necessárias. O tempo ajudou-me a ultrapassar isso, tinha que ser, sob a pena de ter que desistir dos discos todos. Mais tarde percebi que existem discos que não ficam comigo logo à primeira vez. Por exemplo, eu gosto muito da obra dos Jethro Tull e a primeira canção que escutei foi "Aqualung", entrou logo à primeira, mas se por acaso tivesse sido algumas das poucas faixas de "A passion play" provavelmente hoje os Tull não fariam parte da minha discografia."A passion play" pareceu-me deprimente e levei alguns anos até o entender na sua globalidade. Depois comprei o disco.


O CONCERTO


O ambiente no pavilhão era o normal, nada de grandes euforias, embora no ar pairasse uma certa expectativa. Digo uma certa expectativa porque os mais curiosos não se aguentam e fazem uma viagem pelo you tube. Sei que por exemplo o Carlos teve menos surpresas com o concerto do que eu, porque andou a vasculhar via net alguns momentos do concerto. Que piada tem ir ao cinema quando já se conhece o filme?.

"In the flesh" abriu a noite, um grande momento, soberbo, pleno de espectacularidade com o som de braço com a queda e consequente explosão do avião.

"Another Brick in the wall, teve direito a um côro de crianças e "Mother" foi tocado em simultâneo com imagens antigas dos Floyd ao vivo no Earls Court, nos States. No entanto, só apareceu a face e a guitarra de Waters.

No intervalo foram projectados no muro que entretanto fora construido, milhares de nomes de homens que foram abatidos em guerras antigas e noutras mais recentes.Um tributo simples, mas pleno de simbologia.

De regresso às canções seguiu-se "Hey you" e uma das minhas passagens preferidas, a opereta "Bring the boys back home". Arrepiante e inesquecivel.

"Comfortably numb", com um duelo de solos de guitarra no tôpo do muro.

Seguiram-se algumas partes mais teatrais do Lp (permitam-me que diga Lp e não Cd) "The Wall", até que se entrou na contagem decrescente com "On the Run", um dos temas ao qual os Floyd nunca viraram as costas.

No final e depois de muitos e longos aplausos, o merecido encore. Uma canção apenas com todos os músicos em palco, por entre os destroços do muro que entretanto tinha sido derrubado.


Fantástico. No que se refere a todo o contexto visual do concerto certamente terá sido o melhor a que já assisti. Luzes, videos, o avião, as encenações teatrais, pirotécnica, tudo isso aliado às canções resultou num magnifico espectáculo.









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