terça-feira, 17 de junho de 2014

Rolling Stones

 
O tempo condiciona os dias e por vezes temos que abdicar de coisas de que gostamos. Tem sido o meu caso em relação ao meu espaço "A Malta do Bairro", um sítio pacífico onde a música era ou é o seu principal fundamento.
 
Estou de volta!
 
Estou de volta porque o tempo me permite revisitar os meus discos de sempre e igualmente conhecer outros caminhos musicais.
 
Aqui estou depois de ler (e reler algumas partes) da Biografia do todo poderoso Mick Jagger e de ter começado a ler "Life", autobiografia do grande Keith Richard. Estes têm sido meses dedicados aos Rolling Stones e é por isso mesmo que fui escrevendo ou descrevendo , algumas das minhas opiniões em relação à banda e aos seus membros.
 
Espero que "A Malta do Bairro" possa vir a ser (ou voltar a ser) um espaço nosso.
 
Abraço!
 
 
Recentemente terminei a leitura da Biografia de Sir Mick Jagger. Depois de ler e reler algumas partes cheguei ao fim e o balanço é muito positivo. Não sendo um livro contado na primeira pessoa poderia cair na tentação de duvidar da sua veracidade, no entanto, tudo me pareceu claro, apesar de nem sonhar com metade das histórias.
Eu não me recordo em que parte da minha vida os Stones chegaram até mim, creio que os posso situar pela metade da década de 80, altura em que descobri bandas como os Dire Straits ou os Pink Floyd. Por essa época as grandes bandas e os grandes músicos surgiam com frequência, acho que é sempre assim quando estamos a começar a conhecer. Foi assim com MJ como ele relata no seu livro.
Para um puto como eu que adorava música dificilmente coisas como "Satisfaction" ou "Roadhouse Blues" (The Doors) me passariam ao lado. Se a ficha não caísse por essa altura, cairia mais tarde nas primeiras idas aos bares. Acho que qualquer miúdo que nos dias de hoje goste de música a sério já nutriu qualquer sentimento pelas canções que foquei ou por exemplo por "Smoke On the Water" dos Deep Purple. É quase impossível revelar indiferença ao incio de cada uma destas canções, o que não quer dizer necessariamente que se goste delas. Se gostas de boa música e estas num bar a beber um copo o que é que te acontece quando toca Start me Up? Ou bates com a mão no balcão, ou bates o pezinho e bora lá cantarolar, mesmo que não conheças a letra. Eu acho que foi assim desta maneira que os Stones entraram na minha vida, mas via rádio.
Ontem quando dava sequência à leitura de "Life", a autobiografia de Keith Richard, a determinada altura ele dava conta das noites em que com o seu pequeno rádio procurava pacientemente as melhores estações de rádio e depois se metia debaixo dos cobertores a escutar o som para não acordar os pais. Ele procurava  o Elvis, o James Burton ou os Everly Brothers e eu precisamente no mesmo processo procurava entre outras bandas pelos Rolling Stones. Provavelmente o meu rádio já seria bem melhor que o do Keith e se calhar até já tinha um pequeno fone só para um ouvido. Achei piada a esta história simples, porque tantos anos depois eu repeti o processo tantas e tantas vezes.
 
Eu não sei porque, mas nunca fiz nenhum esforço para ir ver os Stones nas suas passagens por Portugal, provavelmente por não nutrir aquela paixão óbvia. que tenho pelos Dire Straits ou até por outras bandas, mas confesso que sou um admirador fervoroso da lealdade da banda ao Rock N´Roll. São uma banda que ao vivo arrasa qualquer plateia por mais pequena ou maior que seja e digo isto sem me focalizar unicamente na figura do Mick. Para mim os Stones são o som que resulta do colectivo e não unicamente o que resulta da garra do frontman ou do guitarrista principal. Por isso fiquei algo desiludido quando percebi que por exemplo o Charlie durante décadas foi um simples assalariado, tal e qual, como foi o Billy. Fiquei desiludido quando percebi que o processo criativo do Ronnie foi estrangulado. Ainda  assim, dou comigo a pensar que se não tivesse sido assim muito provavelmente no dia 29 de Maio não tinha havido concerto na Bela Vista.
 
A história de Mick Jagger é fascinante, tem altos e baixos, tem sacanice, mas quase sempre conscienciosa. Para Jagger os limites eram para respeitar, quer fosse no uso de drogas e do álcool, como em possíveis abordagens ao sistema politico quer em entrevistas, ou concertos. O que menos gostei foi da sua falta de Lealdade para com as suas mulheres e até para com a sua primeira (ou segunda) filha, Jade a quem tardou reconhecer a paternidade. 
O braço de ferro entre Mick e Brian Jones pela liderança da banda também me parece ter sido um dos pontos principais no declínio deste. O tempo e o carisma de Mick superaram e de que maneira a perícia de Brian. Mick quase sempre foi um membro sóbrio. No ar ficou a sensação de que os Stones deixaram algo por fazer em relação a Brian.
 
A luta ombro a ombro com os The Beatles foi outra das coisas que desconhecia. Os The Beatles eram um rival amável que se dava ao luxo de entregar canções ao Stones. Nunca me interessei muito pelos The Beatles, mas foram algumas as vezes em que fiz o exercício de procurar enquadrar as suas canções no seu devido tempo. Um amigo meu, um músico, que se chama Manel D´Avó fala-me muitos da banda quando nos cruzamos na noite. Penso que fizeram coisas boas e passei a gostar de George Harrinson, autor de "While My Guitar Gently Weeps", para mim a grande malha da banda que ganhou espaço no chamado "White Album". Também nunca achei piada ao John Lennon na sua vertente a solo, acho que escreveu uma ou outra coisa com principio meio e fim e pouco mais. Escreveu um hino eterno, é verdade, "Imagine". Mesmo pensando assim, acho que foi e é uma figura respeitável
Acho que de certa maneira a presença em cena dos The Beatles dava enfase ao Stones, conferindo-lhes um aspecto "mais sujo" do que na verdade tinham. Sendo o fruto proibido o mais apetecido os Stones foram ganhando consistência, ultrapassando barreiras e tornando o seu trabalho mais criativo, logo mais apreciado.
 
Também pelo caminho da longa história pude ler por diversas vezes coisas como " o disco não foi bem aceite", "o disco não foi bem conseguido" ou " a digressão não teve o sucesso esperado". A vida dos Stones não foi sempre azul bébé, pelo meio escreveram-se algumas páginas bem negras e inclusive a banda esteve perto da banca rôta, sendo em parte salva pelo "Príncipe" que até nem gostava das suas canções. Depois disso, a história das finanças foi um sucesso.
 
Após ler a biografia do Mick mantenho toda a admiração que tinha por ele, mas confesso que me desiludi muitas vezes com os princípios que levaram aos fins. Às vezes as coisas parecem ficção pura.
 Ainda assim, ele ganhou, chega quase ao final (sim porque os Stones estão quase no final) como sendo o grande deus vivo do Rock N´Roll. Ganhou milhões, teve quase todas as mulheres que quis, ganhou notoriedade à escala Mundial, é reconhecido no seu pais onde muitas vezes foi olhado com desconfiança, ajoelhou multidões. Acho que depois de surgirem os The Doors só mesmo o Jim o poderá ter superado. Ainda há dias um amigo me falava de Freddie Mercury comparando-o com Mick, mas honestamente, discordo. Os Stones batem os Queen e o Mick superou o Freddie a Km´s de distância. Talvez possa ser o facto de não ser um admirador dos Queen me leva a ter este pensamento, mas na verdade penso o mesmo em relação a Bono e gosto dos U2. Que me lembre agora, só mesmo Roger Daltrey , dos The Who, era comparável com Mick, tendo a vantagem à sua volta grandes personagens (grandes malucos) como o Keith Moon ou o Pete Townshend.
 
Independentemente de todas as histórias menos abonatórias, quando meto um disco dos Stones a tocar (como agora com "Goats Head Soap") são as canções que contam. A minha canção preferida chama-se "Paint It Black" e tenho muita admiração por mais umas quatro mãos cheias de canções, onde incluo "Miss You", "Harlem Shuffle", "Ruby Tuesday" ou "Under my Thumb".
 
Acho que agora a ler "Life" é que vou entrar na verdadeira atmosfera dos Stones. Sendo o livro sobre o Mick uma biografia e o do Keith uma autobiografia, por muito injusta que possa ser uma tentativa de comparação, eu acho que a atmosfera começa por ser diferente logo no inicio. As palavras são diferentes e a determinação dos dois também me parece serem muito diferentes. Vejo a história dos Rolling Stones como um paralelo à reacção de Keith face a um gajo grande que durante meses lhe batia quando este regressava da escola. Um dia o Keith, revoltou-se e virou a situação. Os Stones também tiveram algumas fases assim, saindo de baixo, vindo até cima.
 
 
Sérgio Costa

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